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Cursos para os Bispos - MEMÓRIA

Há coisas na Igreja que se explicam humanamente, boa parte – a inteligência, uma pessoa, a perspectiva histórica –, mas não só. Há coisas que são e devem ser simultaneamente inspiradas.

Cardeal Ratzinger ao lado de Dom Karl Joseph Romer no 1º Curso para os Bispos

Surgiu numa reunião dos bispos auxiliares com o Cardeal D. Eugenio, de repente, esta ideia, de que o Rio de Janeiro oferecesse aos bispos de todo o Brasil um curso pastoral, teológico e espiritual. Um grande amigo meu, bispo auxiliar, se assustou e disse: “ora, não estás mais normal?” eu respondi: “Se estou normal, eu não sei; mas acho que minha ideia é certa.” D. Eugenio, em sua sabedoria, cortou essa conversa secundária e disse: “Depende de uma coisa: D. Romer, quem seria o conferencista para convidarmos o episcopado do Brasil? Não uma iniciativa contra a CNBB, nada disto! Com a CNBB, com o episcopado!”. Minha resposta foi, creio, certa: “Acho, D. Eugenio, que devemos convidar o grande professor, hoje cardeal, Joseph Ratzinger (que morreu, há pouco tempo, como Papa Bento XVI)”. D. Eugenio, de olhos arregalados, respondeu: “Bom, se o senhor consegue Ratzinger, eu garanto que o curso será bem aceito”.

Eu fui à minha terra para visitar minha família e, passando por Roma, dirigi-me ao Cardeal Ratzinger. Ele me recebeu delicadamente e perguntou-me: “Como vai a Igreja no Brasil?” Achei ótima a pergunta: “Vai bem, há muitas coisas positivas. Há uma ideia para dinamizarmos os bispos, com uma fundamentação bela, forte e clara, com um curso teológico-pastoral”. O Cardeal Ratzinger respondeu: “Mas que ideia maravilhosa. Pode dizer ao Sr. cardeal que achei a ideia muito boa”. Aí eu “soltei o tiro”: “Eminência, estou aqui em nome do Cardeal do Rio de Janeiro, D. Eugenio Sales, para apresentar ao senhor essa ideia e convidá-lo para que seja o senhor o primeiro conferencista que nos fale da grande teologia da Igreja e da grande missão no mundo moderno a partir da fé, e não da política”. Era o ano de 1988. Ele respondeu: “Veja, a ideia é boa, é encantadora, porém, eu não tenho mais tempo livre.” Ele ia fazer palestras na França, na Alemanha e nos EUA. Perguntei: “e no próximo ano, 1989?”. Também não podia, sua agenda estava cheia de compromissos. Aí tive a coragem de dizer: “Eminência, há uma grande esperança na Igreja, Deus vai nos dar o ano de 1990”. “Mas quando deve ser?”, perguntou Ratzinger. “Única pergunta que não repondo – disse –. Só o senhor poderá responder. Quando o senhor puder, podemos.” Olhando sua agenda, o cardeal respondeu-me: “Bom, acho que há uma possibilidade em 1990, no mês de julho”. Foi a única edição do curso que não foi em janeiro/fevereiro. “Ótimo!”, respondi imediatamente.

Voltei ao Brasil. O Sr. Cardeal D. Eugenio ficou muito contente. Fez as primeiras cartas convidando os bispos, indicando que o Cardeal Ratzinger, que já tinha fama mundial, havia aceitado por estima à Igreja e ao episcopado brasileiro. Escreveram-se 105 bispos. É verdade, alguns idosos, que estavam doentes, não puderam vir, mas 105 se inscreveram e 96 se fizeram presentes.

Foi algo muito belo. Houve, além de Ratzinger, um

palestrante do Brasil, teólogo, bispo, mas a grande figura,

evidentemente, foi Ratzinger. Tudo isso nos deu motivação para que a cada ano, quase, o curso se realizasse. Foi uma graça de Deus. Quantos bispos vêm de longe, muitas vezes com renúncias. Por outro lado, assim como D. Eugenio, nosso estimado Cardeal D. Orani, com essa bela visão de Igreja, com a arquidiocese e a ajuda de amigos da Alemanha, ajuda a manter tudo isto, com suporte e estrutura.

Acho que aqui, com o Curso dos Bispos, temos algo da presença de Deus na Igreja, onde as graças fluem entre os episcopados.

D. Karl Josef Romer, bispo auxiliar emérito do Rio de Janeiro

Cardeal Ratzinger ao lado do Cardeal Eugenio Sales no 1º Curso para os Bispos

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